POEMAS DE GLAUCO MATTOSO
SONETO MAGRO
Coitado de quem teme ser obeso,
pois vive se privando dum bom prato,
comendo só ração, porções de mato,
de olho nos limites do seu peso.
À estúpida dieta o cara é preso.
Magérrimo, parece estar, de fato,
num campo de extermínio, sob ingrato
regime de castigos e desprezo.
Costelas tem à mostra, e inda se acha
saudável! Se mulher, beleza pura,
do seu colesterol medindo a taxa...
Babaca! Enquanto malha na tortura,
seu sábio e nédio médico relaxa
e vai se empanturrando de fritura...
SONETO TORRESMISTA
Não basta a ditadura que já dura
e vem a ditadura antigordura!
Saímos do regime militar,
caímos no regime do regime.
Censuram-nos até no paladar!
Trabalho, horário, imposto, compromisso.
Orgasmo não se tem como se quer.
Só sobra o bom do garfo e da colher,
e os nazis nariz metem até nisso.
Maldita seja a mídia, sempre a dar
espaço à medicina que reprime!
Gestapo da "saúde" e "bem-estar"!
Resista! Coma! Abaixo a ditadura!
A luta tem um símbolo:
FRITURA!
SONETO PREGUICISTA
Não basta a ditadura da injustiça
e vem a ditadura do magriça!
Caímos no regime do exercício,
egressos do regime militar.
Censuram a poltrona como vício!
Dever, serão, cobrança, obrigação.
Mal temos um tempinho de lazer,
e os nazis o nariz querem meter,
impondo-nos o esporte e a malhação.
O tempo é precioso. Desperdice-o!
Senão a gente ainda vai parar
num eito, num presídio ou num hospício.
Resista! Durma! Assuma esta premissa:
A luta tem um símbolo: PREGUIÇA!