PS: Vídeo produzido para o depoimento
do Fórum do CIRCUITO BODE ARTE
Tema: "Travessias e Cruzamentos
do Corpo, Performance e Política: Como Pensamos? Como Performamos?"
Performance e Política? Quando penso
na história do teatro - por ser formada nesta área - posso encontrar nela uma
referência de Teatro Político, com Piscator ou com poéticas políticas com
Brecht (teatro dialético), Augusto Boal (teatro do oprimido), Nelson Rodrigues
(teatro realista, sempre criticando a sociedade e suas instituições). Hoje, não
consigo enxergar essa efervescência somente enquanto estética, como ainda acontece no
teatro do oprimido/fórum, produzido pelo CTO, por meio dos
multiplicadores/coringas; Mas para além de uma estética é notório que o próprio
conceito de arte produzido na contemporaneidade desconstrói muitos padrões
"artísticos". O engajamento produzido nessa linha de
pensamento/linguagem parte do princípio de questionar o fazer arte, o ser
artista, e alarga o conceito de obra para além da primazia. Neste ponto, a
performance me parece ser a linguagem dentro dessa contemporaneidade que mais
abarca essa alargamento (arte-política-ética), pois ela só se faz por meio
desse pensamento amplificado de uma arte não arte, de uma arte contaminada por
qualquer questão intrinsecamente ligada a vida (seja nível individual e/ou
coletivo), não se limitando artisticamente. Pensando nessa questão do artista
como um ser político me lembrei logo de um livro que tenho há alguns anos do
poeta Jorge de Sena, um poeta português. Jorge produz palavras vivas,
detentoras de corpos, corpos autônomos (forma -- peso -- alma -- luz -- energia
-- organicidade, politicidade), produz, porque sempre me afeto quando o releio.
Sendo assim podemos dizer que sua obra não fica presa no tempo, ela transita
para comunicar sobre os que passaram, e que ainda jazem em todos nós, nos
nossos desejos; e jazeremos nós nos que virão ao repartimos neste presente o
seguinte objeto de arte: Videoperformance CORPORIFICAÇÃO DE SENA. Nele me
aproprio do poema "A miséria das palavras". O pensamento deste poeta
me contagia, sendo assim ele se presentifica na minha maneira de pensar/fazer
arte.
SOBRE O POEMA
Pensando na força das palavras do
poema e na crítica que o próprio poeta faz ao uso das palavras, da transgressão
da linguagem, pensei numa ação que não comportasse o verbo falado, mas que o
corpo pudesse apreender a sua dimensão. Com isso me veio em mente o dito
popular "vou dar corda para se ele se enforcar"; Num jogo metafórico
busco o movimento de enrolar "enforcar" a língua com um rolo de linha
de 45 metros. Nesta ação o corpo vai reagindo de forma repulsiva, algo que
consigo vislumbrar no poema trabalhado. Uso a voz do tradutor do google em
francês para desenvolver justamente essa negação que o poeta propõe, negando o
próprio poema ou desvirtuando-o, emaranhando-o na mecanicidade do ato de falar,
da não vivacidade, desse recurso tecnológico e especificamente em francês como
mascaramento de algo rebuscado, como às vezes a língua ludibria.