Performance de Eleonora Fabião no Rio de Janeiro
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CH: Muitos performers parecem referenciar em seus trabalhos um caráter de experiência transcendental (Abramovic, Beuys, Cohen, e outros), por outro lado, um outro aspecto da performance que é sua característica conceitual emblemática. Como dialogam, para você, essas duas informações, não contraditórias, mas paradoxais?
EF: Penso assim. Sou um ser humano e por constituição nasci dotada de consciência sensível, ou em outras palavras, com um corpo pensante. O corpo é esse fenômeno único: ele é sólido, pastoso, gasoso, elétrico e líquido. Acontece, sim, porque corpo é acontecimento. O corpo acontece em densidades cambiantes. Estamos permanentemente vibrando. Uma vibração mínima que revela tanto as incessantes mudanças organicamente processadas, quanto à negociação de referências internas e externas. Estamos em estado de permanente fricção com o mundo e somos mundo. Somos dotados de capacidade múltiplas: sensoriais, intelectuais, físicas, psíquicas, emocionais, espirituais, sexuais, extra-sensoriais, energéticas, e mais todas aquelas outras que eu não conheço e as que esqueci que sei, que estão dinamicamente interligadas numa trança de visibilidades e invisibilidades, materialidade e imaterialidade, fluxos e quietudes. Como diz Espinosa, somos afetados e afetamos; definimos-nos pela capacidade de afetos. Penso que a performance se dedica a pensar essa “coisa” extraordinária que é ser/ter um corpo, um corpo e um contexto onde o corpo acontece; um corpo num circuito de produção de determinados tipos de corpos. O corpo é experiência transcendental e experiência conceitual e não vejo porque privilegiar nenhuma das capacidades em detrimento de outra; se, justamente, elas existem por reciprocidade. É o mesmo que acabamos de conversar sobre o “espectador” e o performer existindo por reciprocidade e complementaridade.
Relâche / Casa Hoffmann – Centro de Estudos do Movimento. Por Cristiane Bouger. Brasil, 2004.
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