PELE DE PAPEL


CONSIDERAÇÕES SOBRE A PERFORMANCE

Vídeo - Apresentação na Bienal do livro de 2007



 Corpo/Palavra/Dança é o que podemos encontrar em Pele de Papel, que nada mais é do que uma ação que instiga a relação entre performer e público, onde o corpo sai de seu comum para abrir um dialogo direto, claro, mas poético. Isso tudo na simples ação de um corpo dado a ser papel. Os corpos se aproximam e literalmente se tocam, mesmo que sejam desconhecidos uns dos outros. Aproximam-se ao tocar a pele de uma pessoa para escrever o seu poema ou os poemas que lhe são oferecidos . Esta performance nasceu a partir da necessidade de aproximação com o público, pois ela surgi no trabalho de improvisação RH (Recursos Humanos) que foi feito na e para rua. Por ser um trabalho contemporâneo (uma linguagem "nova" para Alagoas como um todo), em RH muitas vezes surgiam entraves do público, que se repetiam por diversas vezes e de formas semelhantes, com afirmações e questionamentos tais como: "Isso é macumba", "Ela está passando mal?", "O que faz jogada aí no meio da Rua?", "Está possuída?". Havia uma relação instituída, só que muito superficial, sem envolvimento. Não passava desse nível o diálogo, por ser aquela realidade corporal, a da improvisação performática distante da realidade daqueles passantes. Na busca que o corpo performático pudesse, de fato, fazer enlaces com o público, fomos procurando formas de chegar até as pessoas, quebrando as possíveis travas para que dali uma relação passasse a existir. Foi quando surgiu a palavra, mas não a da prosa. Palavras poéticas que se juntavam a instantes poéticos. Relacionando agora aquele corpo com poesia concreta, poesia objeto. O livro de poesia nos dava assim argumentos e aprofundamento para que os passantes vissem também O Corpo como sendo poético, como participante daquele instante incomum. O ápice da performance aconteceu aí. As pessoas, depois da junção Corpo/Palavra/Movimento, deixaram qualquer receio que tinham de lado para se juntar ao ato performático. Dessa forma, aconteceu uma evolução na relação performer e público. Hoje as pessoas escrevem os poemas no corpo do performer, lêem os poemas do livro, lêem os poemas do corpo, outras se dão também a ser papel, tocam o outro e se permitem ser tocadas. Tudo isso acontecendo na rua ou em lugares de grandes movimentações para que "o reboliço externo afete o espaço interno". Nessa performance encontrei uma justificativa poética para re-significar a relação coletiva.






MOTIVO

Dispo-me

como quem quer se dar. Desvelando-se

expondo as faces, as dobras,

os caminhos.

Entregando o peito, a nuca,

o calcanhar. Como quem necessita

ser frágil no braço do outro. Desmaiado

num colo precioso. Dispo-me

para ser amado.

Mantendo um véu. (NILTON RESENDE, 2007)

Com essa performance pudemos assim abrir uma fenda num lugar onde apenas poderíamos ver antes "A cidade gemendo dentro de uma carne de pedras, ferros e fios".



Obs.: Os livros utilizados para performance Pele de Papel são livros de poetas alagoanos: Um outro Um de Regina Célia Barbosa, O orvalho e os dias de Nilton Resende, e poemas de Milton Rosendo.